Acho que todos os cinco perdidos que aparecem aqui de vez em quando estão carecas de saber que sou jornalista. E também que nunca exerci a profissão. Pois bem, esta semana deram-me a oportunidade de escrever no jornalzinho local da cidade interiorana na qual padeço atualmente. Não é nada extraordinário, e duvido que venha a passar desta semana pelos motivos que irei apresentar aqui.
Primeiro, não é que eu ache ter perdido o "jeito" pra coisa. Na verdade penso que nunca tive esse tal jeito, embora aredite ser mais jornalista que muito colunista por aí. Acontece que, todas as vezes que apareço no tal jornalzinho me bate um tédio mortal. Não me preocupo com o excesso de anúncios dele, nem com as reportagens-propaganda pululando a todo momento nas páginas. Não sou criança pra imaginar que essas coisas nunca existiram e nem um purista virgenzinho pra me ofender com isso. O problema é mais embaixo. Algo que até agora não consegui definir. Talvez na concepção mambebe da coisa toda, como se tudo não passasse de uma brincadeira de calouros na faculdade, mas com toneladas de anúncios. O próprio dono do jornal parece não se preocupar muito com ele, visto que frequentemente sai no meio do dia sem retornar. Ele é advogado e pretende montar um escritório onde fica o triste pasquim, de modo que não me surpreenderia o fato dele não querer mais publicar o mesmo depois de ter seus clientes estabilizados.
Depois eu posso enumerar a total modorra na qual é imersa esta cidade de Pedro Leopoldo, região metropolitana de Belo Horizonte. O lugar é tão chato, mas tão chato que estão fazendo reportagens sobre bancos quebrados. Certo, odeio a cidade, não nego. Porém, vou tentar ser mais específico. Eu tentei pensar em reportagens mais interessantes como os trabalhos na prefeitura no início do ano ou coisa do nível, mas desisti. Certamente ninguém vai querer brigar com prefeito de cidade pequena. Algo que aprendi de bate pronto nas primeiras entrevistas com o populacho das ruas. É simplesmente de dar raiva o número de medrosos com medo de contrariar o poder local. Todos eles perguntando após me responderem que não estão falando mal da prefeitura... Mesmo em casos nos quais a prefeitura é obrigada a agir. Lamentável...
Contudo, o que mais me aborreceu não foram as coisas típicas da cidadezinha. Falo do próprio sentido do exercício da profissão de jornalista. Antes de mais nada, admito que tenho bloqueios, que não consigo me expressar muito bem com as pessoas e sinto um desconforto terrível ao ter que me aproximar de um estranho - ou mesmo conhecido - para falar de qualquer coisa. Procurei passar por cima de tudo isso, embora havia algo do qual não pude passar por cima: Trata-se do fato do jornalista viver necessariamente dos outros.
Sim, este é o assunto principal deste texto, apesar dos rodeios. O jornalista padrão não produz nada e nem pode produzir nada. Desde o início da faculdade somos treinados a captar a informação e repassar da forma mais rápida a um grande público. Nesse meio tempo, se acrescentamos algo, ele é vindo de outras pessoas "capazes", nunca nós mesmos. Isso por um motivo simples; os jornalistas não sabem nada de absolutamente nada. Não é nenhuma novidade isso. Nossa suprema ignorância é o que nos sustenta. Vivemos então das sobras simbólicas que os outros se dignam a nos dar. Uma pequena informação ali, uma propaganda escamoteada aqui... Tudo isso pegamos e repassamos. Afinal, é o que fazemos de melhor.
Fazendo isso, contudo, não nos diferenciamos dos mendigos e pedintes nas ruas. E a verdade é que um jornalista à procura de uma entrevista não é muito diferente de alguém pedindo esmola na calçada. Sempre teimando, procurando e implorando por mais uns centavos de atenção e informação dada de má vontade. O tempo todo atrás de coisas que no fim das contas não interessam mais às fontes e que passam para os vorazes e esfomeados jornalistas, incumbidos de reciclar aquilo a fim de se tornar palatável a uma parcela mais esfomeada ainda.
Tenho até vergonha de admitir que não percebi isso enquanto era aluno na graduação. Se o tivesse feito, certamente teria saído da faculdade ou mudado de curso - embora nenhum mais me ocorresse. O fato é que passei quase a última década esmurrando a ponta da faca do jornalismo para agora ter esse desbunde humilhante dentro de um jornaleco de interior. O que farei daqui por diante não sei, e até aceito sugestões. Talvez me dedique a escrever livros-reportagem, esses analgésicos para a dor de se saber inútil que muitos da minha profissão precisam. Porém isso demanda dinheiro e tempo sobrando. De modo que, possivelmente continuarei no jornalzinho por um tempo, se não me mandarem embora de lá esta semana mesmo.
terça-feira, março 10, 2009
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