segunda-feira, julho 30, 2007

O Vendedor

Nem havia chegado ao meio da manhã e ele estava lá, na televisão. Vestia uma camisa social de impávido branco, ostentando um relógio dourado de proporções titânicas no pulso direito – sim, trata-se de um vendedor canhoto – e um anel igualmente colossal no anelar esquerdo. E gesticulava... Como gesticulava!... Parecia um desses afogados tentando desesperadamente voltar à tona tal o modo como ele balançava os braços, tomando toda a tela. Chegava mesmo a gritar, compre! Compre tudo que puder, o que estamos oferecendo! Pois sou um vendedor e é esse o nosso ofício!... Duro ofício deve ser o de fazer os outros gastarem o que não querem... Por isso o homem de impecável branco, cabelos castanhos meticulosamente penteados e acessórios mais brilhantes que o sol gesticula, grita, ri. Só não chora pois não convém ao vendedor chorar, a não ser para usar da compaixão do comprador. O que não é o caso deste vendedor. Ele não quer usar de artifício tão baixo e vil. Prefere a alegria, pois sempre disseram por aí que a alegria é a melhor vendedora que há. E quem é ele para discordar da voz da maioria, ele que vive dela o tempo todo, fazendo-a sonhar com mundos dentro de caixas de papelão?

A manhã vai passando e, incansável, continua ele a apregoar seus produtos. Talvez nem saiba mesmo do que está falando. Muitas vezes não o sabe. Leia o que está no papel que está mais do que bom, dizem pra ele. Lê. Chega até a entusiasmar-se com o que lê. Imagina o tipo de utilidade que tal invento ou aparelho novo pode ter para o consumidor. Pode ser até um belo serviço público o que faz! Ora, um homem faz o que sabe! E se ele sabe vender, por quê não pensar no bem que uma nova batedeira pode trazer? No fundo sou um benfeitor!, diz a si próprio no espelho do banheiro durante os intervalos, batendo no peito com orgulho. Sim, o vendedor tem pendor para o drama, o patético. Muito provavelmente foi um ator mal aproveitado no teatro e na televisão por não ser tão jovem ou tão bonito como deveria ser ou por ambos. Pensando assim, nem mesmo poderia vender nada... Porém, um jogo incrível do destino o colocou na frente de uma câmera. Um jogo o qual nem vale a pena discorrer aqui posto ser complicado, longo e fastidioso demais.

O programa já está quase no fim e o vendedor ainda exibe energia e frescor como se pudesse continuar ali por todo o dia. Em verdade terá que voltar mais à tarde, à hora na qual quase todos já estão em suas casas, cansados e prontos para ouvir suas prédicas. Compre, compre, compre! Seu grito alegre ecoando por todos os cantos do país. Hipnotizando todos os televisores do país. O vendedor é a própria alma dos outros, traduzida em luzes e números de cartão de crédito.

Por fim, quando não há mais nada para vender os televisores e telefones são desligados. O vendedor, que durante quase todo o dia berrou alegremente seu bordão, volta ao espelho do banheiro dizer novamente Sou um benfeitor! para sua sorridente e cansada imagem do outro lado. Lava o rosto, ajeita os cabelos levemente despenteados e vai embora da emissora, que parece até perder um pouco o brilho depois de sua partida...

quarta-feira, julho 18, 2007

Energia em Curto

Justo agora quando estavam todos se deliciando com o Pan-americano. Tendo orgasmos múltiplos em admirar estádios que custaram os tubos do dinheiro público. Quando nos ufanávamos de ter ganho da Argentina na Copa América... Enfim, quando perdíamos tempo com um monte de besteiras que absolutamente ninguém, mas ninguém mesmo no mundo presta atenção aconteceu um milagre!

E como todo milagre, veio do céu. Terminando por escorregar numa pista encharcada e bater de frente no prédio da TAM linhas aéreas.

Agora sim estamos aparecendo no noticiário internacional!

Sem querer fazer graça com as pobres pessoas que morreram no acidente, mas tem que ser logo uma tragédia dessas para este país acordar pra vida, ainda que por pouco tempo? Esta manhã na televisão só se passavam imagens dos destroços, sempre entremeados de uma ou outra competição ou entrega de medalhas. Nem mesmo no meio do desastre conseguimos olhar de maneira séria pra alguma coisa!...

Pra terminar, ninguém liga pra esse Pan, exceto os bobões que assistem televisão o tempo todo e meia dúzia de políticos e empreiteiros que faturaram horrores com as obras superfaturadas. Enquanto isso o povo chora pela menina que não conseguiu uma medalha de ouro dia desses. Os aviões caem, o país está uma merda, mas o Pan é no Brasil!...

terça-feira, julho 17, 2007

Okami

Já faz um tempo que não posto nada neste blogue e isto tem bons motivos. O primeiro é que ando meio atarefado com o fato de me tornar o "feliz gerente de um estabelecimento comercial", o que gera o segundo motivo: Todo o tempo livre que possuo vem sendo gasto em horas e mais horas de jogatina no Playstation 2 do meu irmão, console o qual eu acabo usando mais do ele. Mas não é pra jogar qualquer coisa como esses GTAs da vida, não senhor! É para jogar a coisa mais emocionante que vi em toda a minha vida de nerd esmagador de botões de controle.

Chama-se Okami o grande feito.

Nada do que eu poderia dizer aqui conseguiria exprimir a beleza e a delicadeza desse jogo. É lindo só passear pelos cenários, apreciando os gráficos baseados em pintura tradicional japonesa, com traços grossos e expressivos, como feitos com pincel. Aliás, o próprio pincel tem uma bela função no jogo, mas isso falo mais na frente.

Bem, o início do jogo é o que se pode chamar de "normal". Há cem anos atrás uma pequena vila do interior do Japão era assolada por Orochi, um demônio que todos os anos escolhia uma jovem em troca de nao destruir todos. Um guerreiro chamado Nagi o enfrentou com a ajuda de Amaterasu, a deusa do sol, na forma de uma loba. E, enfim, a paz chegou... Até que, cem anos depois, um mané tira a espada que selava o bicho, cobrindo o mundo de escuridão e desespero. Neste ponto que reaparece Amaterasu para consertar as coisas.

Certo, parece coisa mais clichê que vocês, meus cinco leitores, já viram na vida. Principalmente quando se é apresentado a Issun, um "artista andarilho" como ele mesmo fala. Um sujeitinho com o tamanho de uma pulga embora fale mais que lavadeira, além de ser um mulherengo safado de primeira linha. Tudo para ser o alívio cômico do jogo. Mas em se tratando de comédia, até a própria Amaterasu faz das suas. Na forma de um lobo idiota consegue ser engraçada até na hora das batalhas dramáticas.

Enfim, no decorrer do jogo, a história vai se complicando e o quadro de personagens com os quais a dupla Issun e Ammy(como ele a chama) vai interagindo aumenta enormemente. Desde um descendente do famosso Nagi da lenda, um cara preguiçoso e beberrão, até um menino e seu cachorro.

Por fim, falando do pincel. Uma das belas sacadas do jogo. Ammy tem o poder de invocar um pincel divino com diversos poderes dependendo do desenho que se faça - desenha-se livremente na tela, que fica cinza nessa hora. Poderes esses liberados ao longo do jogo. Um dos mais bonitos é o de fazer as plantas renascerem. Usá-los nas cerejeiras para expulsar a maldição de uma área é uma das cenas mais lindas e sensíveis do jogo. Tudo isso acompanhado por uma trilha sonora muito legal!!!

Bem, fim do momento babação. Outro dia talvez fale de outro jogo: Ar Tonelico. Agora vou trabalhar que meu pai já está me olhando com cara feia.