sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Raiva

Um dos sentimentos mais comuns do ser humano. A vontade repentina e forte de destruir algo incômodo provalvelmente foi uma das coisas que fez a espécie de animal fraco e indefeso que somos sobreviver e prosperar ao longo da história. Depois que vencemos a natureza, voltamos nossa raiva para nós mesmos, pois cada um queria mais espaço para seu próprio grupo, clã, tribo e, finalmente, nação. Então travam-se guerras em nome de deuses e ideiais que apenas servem para mascarar o verdadeiro motor de tudo isso. Raiva. Mas de qualquer modo ainda era uma raiva condicionada, posta a serviço de um certo objetivo construtivo - mesmo que às custas da destruição de outras coisas.

Por fim chegamos à vida moderna e a raiva agora é quase produto comercial. Vendem-na nos telejornais da noite quando falamos dos bandidos e terroristas. Vendem a raiva da pobreza, da tristeza, do tédio, do amor. Distribuem-se aos montes por aí a raiva das gorduras a mais ao mesmo tempo que dos exercícios. Bradam aos quatro ventos a raiva à seriedade e à velhice como uma concequência dela. Também se enraivece contra a juventude, uma vez que ela é muito curta com sua beleza rápida.

E para que toda essa raiva cresça é preciso que em primeiro lugar se publique a raiva à profundidade e, principalmente, raiva à cultura. Somente então teremos uma sociedade cheia de raiva, como a nossa.

As pessoas de um modo geral têm muita raiva. Porém, preferem dar outros nomes à ela como individualidade(raiva das outras pessoas) e amor ao trabalho. Este último sendo o mais útil à raiva, pois trabalhando-se o tempo todo não se tem tempo para pensar em si. E pensar em si durante um certo tempo sempre leva à angústia, que é a maior inimiga da raiva, posto que é incerta, ao contrário dela. As pessoas que trabalham muito sempre têm uma grande raiva da angústia, coisa fácil de se perceber.

De qualquer modo, a maior de todas as formas de raiva é sempre a esperança, que não passa de raiva da realidade e do presente. Criamos ilusões futuras para que suportemos um lugar e uma situação que nos incomoda, embora quaisquer outros cheguem ao mesmo resultado.

Contudo, por mais que se diga, todas essas formas de raiva não chegam nem perto da verdadeira. Aquela que vez sobreviver uma espécie fisicamente incapacitada. A ela é preciso que durma sempre e jamais demonstre o menor indício de ação. Pois a verdadeira raiva paira o tempo todo sobre a cabeça das pessoas como uma espada... Pode-se dizer até que como uma forma de angústia.

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