quarta-feira, julho 12, 2006

Três oitão show time

No início era simplesmente algum sortudo que ligara a câmera numa hora afortunada. Então, no dia seguinte, estávamos todos diante de mais um flagrante da vida; um assalto, agressão e mais uma infinidade de crimes que se faziam ali na esquina. Antes disso, quase ninguém fazia idéia do movimento na porta de sua casa às madrugadas. Contudo, era ainda novidade existir ao menos um com uma câmera à disposição e registrar o fato.

Depois as câmeras tornaram-se comuns, ao contrário dos sortudos amadores. Havia agora nichos de cobertura do crime, gente especializada em correr atrás de bandido ao lados dos policiais. Muitas vezes chegando até um certo tipo de relação entre ambos quando o criminoso era graúdo e a prisão dava notícia no jornal da noite. Os famosos noticiários do tipo "espreme que sai sangue" ganharam versões mais leves no horário nobre. Compensando a falta do dito espremido por uma verborragia incessante do apresentador inconformado com o mundo cão onde se vive e quase hipnóticas chamadas para a próxima e mais ainda bombástica notícia.

No fim, todos nós nos acostumamos a isso. Ouvimos todas as manhãs os números de assassinatos e assaltos da noite anterior como se fosse pão com manteiga e leite quente...

Tudo isso creio que deve ter passado pela cabeça ou a caneta de muita gente. Todos nós temos, em medidas diferentes, uma consternação estudada, um choque previamente ensaiado para notícias do tipo "São Paulo sob nova onda de ataques" ou coisa do gênero.

E provavelmente, os bandidos também o tem. Perceberam que matar ou roubar alguns carros num fim de semana não é mais o suficiente para atrair a atenção da sociedade muito ocupada com si mesma. Preciso é invadir bases militares, meter bala em policiais. Afinal, é tudo um grande show mesmo, as "atrações" anteriores já estavam ultrapassadas para o grande público. O sangue já era pouco...

Aqui não estou conjecturando sobre políticas de segurança, ou o colapso social. Um cara que atira num posto da polícia e cola um cartaz, outros que fazem uma rebelião e penduram enormes emblemas nas paredes, enfim, essa gente não está preocupada com sociologia. Muito menos com o crime pelo crime. Tornou-se tudo uma guerra por câmeras, flashes, entrevistas exclusivas com jornalistas famosos e mais espaço nos telejornais. Porque publicidade faz bem aos negócios, seja qual negócio for. De um lado, criminosos querendo impor sua força para não serem perturbados, do outro... Do outro, governos que não querem parecer incompetentes. Como toda guerra por atenção, gera a guerra com sangue, que cada vez menos pessoas está interessada em ver. Está tudo ficando muito chato e repetitivo.

Por enquanto nenhum dos lados está conseguindo variar muito a sua programação para a platéia sonolenta e entediada.

4 comentários:

. disse...

Oláááá, passei mesmo só pra encher o saco. Bjus.

. disse...

Atualiza.

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